Nova alta da Selic pode pesar ainda mais no crescimento econômico, diz CNI

A recente decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de elevar a taxa Selic em 0,5 ponto percentual trouxe novas preocupações à indústria brasileira. Agora em 14,75% ao ano, a Selic atinge o maior patamar dos últimos 20 anos, o que, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), coloca um peso ainda maior sobre o crescimento econômico do país.
PIB cresce menos do que o desejado
A expectativa é de um crescimento do PIB de apenas 2,3% em 2025, uma queda considerável em relação ao ano anterior (3,4%), e o setor industrial não ficará imune, diz a confederação, que estima que a indústria crescerá somente 2% ante os 3,3% de 2024.
“Caso a estimativa se concretize, isso representaria o menor crescimento da economia nos últimos cinco anos e está diretamente relacionado à política monetária contracionista”, diz Alban, em nota.
A confederação ressalta que, ao considerar a atual conjuntura, pelo menos quatro fatores deveriam ser avaliados pelo Copom antes de adotar mais aumentos na taxa de juros:
- Os efeitos da política monetária contracionista, que já afetam o mercado desde setembro de 2024, ainda não se materializaram completamente, o que torna um novo aumento precipitado.
- A taxa real de juros de 8,8% ao ano, com a Selic a 14,25%, já se mostra suficientemente alta para controlar a inflação. O Brasil possui uma das maiores taxas de juros reais do mundo, um parâmetro adequado para atrair investimentos e controlar a inflação.
- Com o aumento de tarifas de importação, a nova política comercial dos EUA reduziu a pressão sobre o dólar e ajudou na valorização do real em 8,2% entre dezembro de 2024 e abril de 2025. Isso contribui para o controle da inflação e reduz a necessidade de ajustes na taxa de juros.
- A desaceleração fiscal observada desde o segundo semestre de 2024 contribui para a moderação do consumo e também favorece o controle da inflação.
Os riscos do aumento da Selic
A CNI aponta, no entanto, três grandes riscos caso o Copom ignore esses fatores e siga com o aumento da Selic.
O primeiro é o desestímulo ao investimento produtivo, crucial para o crescimento no médio prazo. A queda nos investimentos pode resultar em menor oferta de bens e serviços, gerando pressões sobre os preços quando a demanda for retomada.
O segundo risco é o aumento dos custos financeiros das empresas, refletido na alta das taxas de juros médias sobre as operações com pessoas jurídicas.
O terceiro fator está relacionado ao aumento do custo da dívida pública, que amplia o déficit fiscal e pode comprometer a sustentabilidade das contas públicas.
Diante desses desafios, a CNI sugere que o Banco Central reforce o uso de depósitos compulsórios como ferramenta monetária.
"Essa alternativa ajudaria a controlar a inflação, sem impacto nas despesas com juros e na trajetória da dívida pública", diz a nota. "Além do uso desse novo instrumento, a política monetária precisa ser auxiliada por uma política fiscal mais racional, em que a pressão por aumento dos gastos públicos seja contida a partir de um pacto nacional pelo equilíbrio fiscal."
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