Desafios para o aprendizado em crianças com transtornos do neurodesenvolvimento

Desafios para o aprendizado em crianças com transtornos do neurodesenvolvimento
Por Aslan Alves*
Sempre que alguém pergunta como é trabalhar com crianças que têm transtornos do neurodesenvolvimento, a primeira coisa que digo é que cada dia é uma nova descoberta. Não existe uma fórmula mágica ou um padrão universal. Cada criança é única e, por isso, cada intervenção também precisa ser personalizada. Estamos falando de condições como TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade), TEA (Transtornos do Espectro Autista), Dislexia (distúrbio de aprendizagem caracterizado pela dificuldade de leitura), Dispraxia (transtorno neurológico de coordenação motora) e outros transtornos que afetam o desenvolvimento cognitivo, motor, social e comportamental dos pequenos.
Se pensamos no ambiente escolar, é natural imaginar crianças aprendendo, brincando e se desenvolvendo juntas. Mas para uma criança com TDAH, manter o foco na aula, por exemplo, é um desafio gigantesco. A dificuldade de sustentar a atenção, de planejar as atividades e até de controlar os impulsos afeta diretamente o desempenho e essa situação, se não for bem compreendida, pode ser frustrante para a criança, para os professores e também para os pais.
É comum muitos pais se sentirem perdidos, sem saber como ajudar. Como garantir que a criança se desenvolva ao máximo dentro de um sistema educacional que, muitas vezes, não está preparado para lidar com essas demandas específicas? A resposta começa com uma boa comunicação entre família e escola, e com o entendimento de que adaptações são necessárias para garantir um aprendizado mais inclusivo e eficaz.
Um aluno com TDAH pode se beneficiar, como exemplo, de quadros de horários e listas de tarefas visuais para organizar o dia. Regras e rotinas claras ajudam a estruturar o pensamento e a manter o foco, permitindo que a criança consiga lidar melhor com suas funções executivas que, nesse caso, costumam ser comprometidas.
Por outro lado, para as crianças com TEA é fundamental que o ambiente escolar esteja preparado para minimizar sobrecargas sensoriais. Sons, luzes ou estímulos em excesso podem ser extremamente desconfortáveis, dificultando ainda mais o aprendizado e a interação. Portanto, ambientes mais previsíveis e recursos visuais que ajudem a organizar as informações são estratégias que costumam trazer bons resultados.
E o papel das famílias? É fundamental! Em casa, os pais podem reforçar as estratégias, criando rotinas consistentes e ambientes organizados que favoreçam a concentração e o aprendizado. O apoio emocional é indispensável, com o reconhecimento de pequenos progressos que ajudam a criança a construir sua autoestima, reduzindo o impacto emocional que as dificuldades escolares podem trazer.
Vale ressaltar que as intervenções neuropsicológicas devem ser individualizadas e baseadas em avaliações detalhadas das habilidades e dificuldades da criança. Cada avaliação é como um mapa que nos mostra as forças e os desafios, orientando o caminho a ser seguido tanto na escola quanto em casa. Dessa forma podemos adaptar o ensino para promover o máximo potencial de desenvolvimento, respeitando o perfil cognitivo e emocional de cada um.
Resumindo: compreensão, adaptação e suporte contínuo são os pilares para promover o aprendizado e o desenvolvimento saudáveis. Precisamos de ambientes que respeitem as particularidades dessas crianças para que elas possam superar as barreiras impostas pelos transtornos do neurodesenvolvimento e construir trajetórias acadêmicas e sociais de sucesso. Cada conquista, por menor que pareça, é um grande passo na jornada dessas crianças.
*Sobre Aslan Alves (CPR 05/54575): Psicólogo com pós-graduação em Neuropsicologia, especialista no atendimento de crianças com Transtorno do Espectro Autista e Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Com mais de cinco anos de experiência, atualmente dedica-se ao atendimento com abordagem da TCC (Terapia Cognitiva Comportamental) e à realização de avaliações neuropsicológicas detalhadas para crianças e adultos, com desenvolvimento de protocolos personalizados para avaliação psicológica e neuropsicológica. Atuou como coordenador do setor de Neuropsicologia em clínica de saúde mental e trabalhou na linha de frente contra a COVID-19, oferecendo suporte vital aos setores clínicos, CTI e emergência durante a crise sanitária.
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