Trump suaviza impacto de tarifas sobre setor automotivo dos EUA

Presidente republicano concordou em conceder às montadoras créditos equivalentes a até 15% do valor dos veículos montados no país. Esses créditos poderão ser usados para compensar o custo das peças importadas. Trump embarca para Michigan para participar de comício em celebração de seus 100 dias no cargo.
Reuters
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nesta terça-feira (29) uma ordem para reduzir o impacto de suas tarifas sobre o setor automotivo, oferecendo um conjunto de créditos e isenções de outras taxas sobre materiais e peças.
A mudança foi anunciada no mesmo dia em que Trump viajou para Michigan, berço da indústria automotiva dos EUA, e poucos dias antes da entrada em vigor de uma nova rodada de tarifas de 25% sobre peças automotivas importadas.
A visita, feita na véspera de seu centésimo dia de mandato, ocorre em meio a uma crescente insatisfação dos americanos com sua gestão econômica, diante de sinais de que as tarifas podem prejudicar o crescimento e elevar a inflação e o desemprego. (leia mais abaixo)
Em mais uma reversão parcial de suas políticas tarifárias, o presidente republicano concordou em conceder às montadoras créditos equivalentes a até 15% do valor dos veículos montados nos EUA. Esses créditos poderão ser usados para compensar o custo das peças importadas, dando tempo para que as cadeias de suprimento sejam reestruturadas internamente.
Ao mesmo tempo, sua equipe comercial anunciou o primeiro acordo com um parceiro estrangeiro — medidas que ajudaram a aliviar as preocupações dos investidores em relação às políticas comerciais de Trump. O país com o qual haveria um acordo ainda não foi divulgado. (veja detalhes abaixo)
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Líderes da indústria automotiva intensificaram a pressão sobre o governo nas semanas seguintes ao anúncio das tarifas de 25% sobre veículos e peças importadas. As medidas, que tinham como objetivo forçar as montadoras a transferirem a produção para os EUA, colocaram em risco a complexa rede de produção automotiva integrada entre EUA, Canadá e México.
“Isso oferece um pequeno alívio para a indústria enquanto as empresas investem mais na produção interna”, disse Trump ao deixar Washington rumo a Michigan. “Queríamos apenas ajudar. Se elas não conseguirem obter peças, não queremos penalizá-las.”
A incerteza gerada pelas tarifas de Trump sobre o setor automotivo ficou evidente nesta terça-feira, quando a GM retirou sua previsão anual, apesar de ter divulgado vendas e lucros fortes no trimestre. Em uma decisão incomum, a montadora também adiou uma teleconferência com analistas, marcada para o fim da semana, aguardando a divulgação completa dos detalhes sobre as mudanças tarifárias.
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Acordo com 'potência estrangeira'
Enquanto isso, o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, afirmou à CNBC que havia fechado um acordo com uma potência estrangeira que deve reduzir de forma permanente as tarifas recíprocas de Trump.
Lutnick preferiu não revelar o país envolvido, alegando que o acordo ainda depende de aprovações locais. “Já fechei o acordo. Mas preciso esperar que o primeiro-ministro e o parlamento do país aprovem”, disse.
Os comentários de Lutnick contribuíram para impulsionar ainda mais os preços das ações, que vinham sendo pressionados pelas iniciativas de Trump para reformular o comércio global e forçar empresas a transferirem sua produção para os EUA.
O índice de referência S&P 500 fechou em alta de 0,6% nesta terça, marcando o sexto dia consecutivo de ganhos — sua sequência mais longa desde novembro.
Outros acordos comerciais
Trump e sua equipe pretendem fechar 90 acordos comerciais durante uma pausa de 90 dias nas tarifas recíprocas, anunciada no início de abril. O governo tem afirmado repetidamente que está negociando acordos bilaterais com dezenas de países.
Um dos principais objetivos de Trump é reduzir o enorme déficit comercial dos EUA em bens, que atingiu um recorde em março devido ao aumento das importações antecipadas para evitar as tarifas.
As políticas comerciais agressivas de Trump vêm impactando a economia global desde seu retorno à Casa Branca, em janeiro. A pausa de 90 dias foi anunciada após uma forte reação negativa dos mercados financeiros, motivada por temores de recessão, inflação e outros fatores.
Reduzir o impacto das tarifas sobre o setor automotivo é a mais recente tentativa do governo de demonstrar flexibilidade em relação às medidas que têm causado turbulência nos mercados financeiros, gerado incerteza para as empresas e alimentado o medo de uma desaceleração econômica acentuada.
Aprovação de Trump cai
Uma pesquisa da Reuters/Ipsos publicada nesta terça-feira revelou que apenas 36% dos entrevistados aprovam a condução da economia por Trump — o menor índice de seu mandato atual ou de sua presidência anterior (2017–2021).
Enquanto isso, o primeiro relatório trimestral do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA sob o novo mandato de Trump será divulgado na quarta-feira.
A expectativa é de que os dados revelem um impacto negativo significativo das tarifas, principalmente devido a um aumento recorde nas importações, já que empresas e consumidores anteciparam compras de produtos estrangeiros para evitar os novos encargos.
Segundo uma pesquisa da Reuters com economistas, a economia deve ter crescido apenas 0,3% em ritmo anualizado entre janeiro e março, uma forte desaceleração em relação aos 2,4% registrados no último trimestre de 2024.
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