Exclusivo: gigante dos frangos investe R$ 180 milhões e chama Neymar para dominar o varejo

Mesmo diante de um cenário de incertezas com a gripe aviária, que fechou temporariamente mercados importantes como China e União Europeia, a paranaense GTF aposta em crescimento.
A GTF, antiga GTFoods, tem planos ambiciosos: quer chegar a um faturamento de 5 bilhões de reais em 2026 — frente aos 4 bilhões registrados em 2024. O novo ciclo de investimentos, revelado com exclusividade à EXAME, contempla automação industrial, reformulação de embalagens, inovação em produtos e uma ofensiva de marketing, que inclui patrocínio ao Santos Futebol Clube e um contrato com Neymar Jr. como garoto-propaganda da marca Canção.
O momento marca uma virada estratégica. A GTF está apostando na valorização de marca e em produtos com maior valor agregado, como cortes temperados, embalagens porcionadas e praticidade para o consumidor. É dali a maior parte do investimento previsto.
“Fomos uma empresa focada em crescer e abater volume. Agora, estamos virando a chave para conquistar espaço na gôndola e nos tornarmos relevantes para o consumidor final”, afirma Vinícius Gonçalves, vice-presidente da GTF.
A meta é clara: tornar a marca Canção responsável por 50% das vendas da companhia, além de ampliar a exportação de frango de 25% para 35% do faturamento em 2025.
“A ideia é sair do modelo onde o supermercado faz o trabalho de pesar e embalar o produto e já entregar isso pronto ao consumidor, com mais conveniência e valor agregado”, diz.
Qual é a história da GTF
Fundada em 1992, em Maringá, no Paraná, por três integrantes da mesma família — pai, tio e avô de Vinícius —, a empresa nasceu com abate diário de mil aves. Hoje, são 630.000 aves abatidas por dia.
No início, eles abriram um galpão para comercializar frangos vivos, enfrentando dificuldades típicas de pequenos negócios, como concorrência e mudanças no mercado local. A virada veio quando decidiram verticalizar a operação, passando a abater e processar as aves, o que agregou valor ao produto e permitiu o crescimento do negócio
Até 2011, o crescimento foi puxado por aquisições. Depois disso, a empresa focou em expansão orgânica. Hoje, são mais de 30 unidades produtivas, entre fábricas de ração, matrizeiros e frigoríficos.
O modelo sempre foi centrado em eficiência industrial. Mas isso começou a se mostrar limitado. “Investimos muito pouco em marca ao longo da nossa história", diz. "Nosso produto saía como uma commodity, e isso nos colocava numa guerra de preços na gôndola”, afirma Vinícius.
O novo ciclo mira reposicionar a GTF como uma empresa de marca, não só de proteína.
“A gente passou 30 anos só pensando em crescer em volume. Agora, o foco é crescer em valor”, diz.
Qual será o foco do investimento
O investimento tem como eixo central a transformação da marca Canção, responsável por uma fatia crescente das vendas da GTF.
O foco é deixar de ser uma fornecedora de frango in natura vendido a granel e passar a ocupar espaço nas prateleiras com produtos de conveniência, voltados para o consumidor final.
“O supermercado hoje presta um serviço para nós, pesando e etiquetando o frango. A gente perde toda a chance de comunicar marca ali”, diz Vinícius. “Queremos assumir esse papel. Vamos levar o produto já porcionado, temperado, em bandeja, com peso padrão. Parece simples, mas exige uma mudança completa na linha de produção.”
Por trás dessa decisão está uma mudança no comportamento do consumidor. Famílias menores, jovens que vivem sozinhos por mais tempo, busca por praticidade.
“O frango de um quilo temperado, em pedaços ou fatias, facilita o dia a dia. É isso que a Canção quer entregar.”
Hoje, a marca está presente principalmente em Paraná, São Paulo, Santa Catarina e Rio de Janeiro. A estratégia agora não é ampliar para o Brasil inteiro, mas consolidar a liderança onde já tem escala.
“Tiramos o pé de estados mais distantes, como a Bahia, por uma decisão logística. Entregar perto de casa é mais eficiente e mais rentável”, afirma.
Plano de marketing envolve Neymar
O envolvimento com o futebol começou com o Maringá, clube da cidade onde nasceu a GTF. Mas foi com o Santos que a estratégia ganhou escala.
“Patrocinamos o clube ainda na Série B. Era um time de pouca rejeição e que poderia voltar à elite. Apostamos nisso — e veio o bônus com a volta do Neymar.”
A negociação com Neymar se concretizou este ano. O contrato é de dois anos e posiciona o craque como embaixador da Canção. “Ele é um dos nomes mais conhecidos do país. Tudo que ele faz vira notícia. Não tem como ignorar esse potencial”, afirma.
E as exportações?
A GTF exporta hoje 25% da produção, com destaque para Oriente Médio, Ásia e África. A meta é chegar a 35% já em 2025, com ênfase em produtos de maior valor agregado e posicionamento de marca.
Mesmo com o impacto recente da gripe aviária — que fechou mercados importantes como China, Japão e União Europeia —, a empresa manteve o plano. “Enxergamos a gripe como um evento pontual", diz a empresa.
O setor de proteína de frango passou por forte consolidação desde os anos 2000. Na última semana, a prova maior deste movimento foi a fusão da Marfrig com a BRF para a criação da MBRF, um negócio de 152 bilhões de reais em receita. Fora das gigantes e cooperativas, a GTF é a maior empresa de capital fechado em volume de abate do país.
O desafio é diferenciar-se em um mercado onde o frango ainda é tratado como commodity.
“Se você não tem marca, a escolha do consumidor é pelo menor preço. Isso é ruim para todo mundo”, afirma Vinícius.
Desde 2018, a GTF passou por um processo de sucessão familiar. Rafael Tortola, primo de Vinícius, assumiu como CEO, enquanto Vinícius ocupa o cargo de vice-presidente. O processo trouxe também reforço em governança e profissionalização da gestão.
“Estamos mais estruturados e confiantes para dar esse salto de posicionamento”, afirma. “Queremos transformar a GTF numa marca reconhecida, no Brasil e lá fora.”
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